Teste: BMW R 1250 RT ?acumuladora de quilômetros
Novidade da marca bávara chega para atender ao carente mercado de sport tourings com potência de sobra e conforto
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“Os melhores momentos são contados em quilômetros”. É com esse lema que a BMW volta a oferecer no Brasil a linha RT. A nova R 1250 RT chega na cor branca custando R$ 165.750. Quem quiser um algo a mais, a marca disponibiliza o “Opcional 719”, na cor azul e com peças de acabamento exclusivo e um preço ainda mais elevado: R$ 178.750.
O visual é de moto policial europeia, com uma grande carenagem superior, maleiros laterais, grande conjunto ótico frontal com os famosos “angel eyes” da BMW (luzes diurnas de LED). Ficaram faltando apenas as sirenes. Só que a R 1250 RT não é para ficar olhando. É na estrada que ela vai se sentir mais confortável. E você também.
Técnica imbatível
Os números mostram que a BMW R 1250 RT não apenas parece grande, é de fato. São 2,22 m de comprimento, 990 mm de largura entre os maleiros, 1,48 m de entre-eixos e a altura até o topo do para-brisa pode chegar a 1,57 m. O banco que vem de série é ajustável em altura, indo de 805 mm a 825 mm em relação ao solo. Opcionalmente há um banco mais baixo (entre 760 mm e 780 mm) e um mais alto (entre 830 e 850 mm). E ela continua superlativa, com um tanque de combustível capaz de armazenar 25 litros de gasolina e um peso em ordem de marcha de nada menos que 279 kg.
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O chassi tem quadro bipartido com o motor fazendo parte do conjunto. Falando nele, é o mesmo propulsor da R 1250 GS, com 136 cv de potência a 7.750 rpm e 14,3 kgfm de torque a 6.250 rpm. O motor tem comando duplo de válvulas variável no cabeçote com o uso do sistema ShiftCam da BMW e o arrefecimento a líquido para refrigerar o propulsor de dois cilindros contrapostos de 1.254 cm³. O câmbio tem embreagem com acionamento hidráulico e seis velocidades, enquanto a transmissão final é feita por eixo cardã, como é tradicional nas motos grandes da marca.
Para segurar tudo isso, a R 1250 RT tem dois discos de freio na dianteira com 320 mm de diâmetro e quatro pistões em cada pinça. Na traseira, o disco é único com 276 mm de diâmetro e pinça dois pistões. A suspensão é um dos destaques. O sistema é adaptativo e conta com amortecimento único na dianteira (120 mm de curso) e na traseira (136 mm de curso). O sistema “telelever” da frente mantém as bengalas tradicionais, mas os elementos de absorção ficam escondidos atrás da carenagens.
O conjunto de rodas que vem de série para a moto no Brasil é opcional na Europa. Na dianteira, tem 17 polegadas de diâmetro e 3,5 polegadas de tala, sendo calçada por pneu de medida 120/70 ZR 17. Na traseira, a roda é um pouco mais larga: mantém as 17 polegadas de diâmetro, mas passa a ter 5,5 polegadas de largura com pneu 180/55 ZR 17.
Lista de equipamentos digna de carro, mas há falhas
Se você olhar a tabela de equipamentos de série da nova R 1250 RT, parece mais que estamos tratando de um carro da BMW do que de um produto da divisão Motorrad da marca. São elementos como aquecimento de manoplas e bancos com acionamento individual para o garupa e até comutador automático para o farol alto, que identifica um veículo vindo na direção oposta para baixar o facho.
A moto traz ainda acendimento automático dos faróis (halógenos), luzes diurnas de LED, controle de cruzeiro, suspensão adaptativa com carga pré-selecionável e função automática, modos de condução selecionáveis, assistente de partida em rampa, para-brisa com altura regulável eletricamente, controle de tração com intensidade regulável e freios ABS atuante em curvas, entre outros.
A BMW foi bem atenta aos detalhes ao definir os equipamentos que seriam entregues de série na nova R 1250 RT. Diversos itens citados são opcionais na moto europeia. Entre eles ainda estão o sistema de rádio com conectividade via Bluetooth, computador de bordo completo com tela digital e instrumentos analógicos e até mesmo as rodas. A moto básica europeia tem peças da mesma medida, mas de cor alumínio. A brasileira já vem com as rodas da linha “Opcional 719” pintadas de preto e detalhes diamantados.
Outro ponto positivo é a chave presencial. Além de permitir o travamento central dos dois porta-trecos frontais e dos maleiros laterais, não exige que se coloque a chave em um miolo para se dar a partida. No entanto, alguns itens estão defasados. Como é o caso dos faróis halógenos e o próprio rádio.
Ele tem conectividade Bluetooth sim, mas apenas entre a moto e o seu capacete. Para ouvir música, será necessário usar o rádio, ou ainda as entradas USB e auxiliar que ficam em um dos porta-trecos, que são pequenos e mal acomodam um smartphone moderno com tela maior. Nessa faixa de preço, sinceramente. Até uma marcha ré seria interessante e não está presente. Os espelhos têm regulagem apenas manual, apesar de ficarem bonitos integrados à carenagem e oferecem boa cobertura visual.
Como anda?
O teste-drive oferecido pela BMW foi de menos de 140 km entre a capital paulista e a cidade de São Roque (SP). Para uma moto sport touring, que preza por entregar desempenho e conforto para longuíssimas distâncias, não deu nem para chegar próximo das capacidades desta nova BMW R 1250 RT. Ela pede estrada, e muitos quilômetros dela, como o slogan da marca afirma.
A rodovia é realmente onde a moto fica mais à vontade. A 120 km/h de sexta marcha, com o controle cruzeiro acionado, o conta-giros marca menos de 4.000 rpm. A estabilidade é tanta que manter as mãos no guidão se torna redundante. Não há vento lateral ou caminhão que tire a R 1250 RT dos trilhos. Fica o destaque para o para-brisa regulável. Pode-se ajustar a altura da bolha em movimento, mantendo o “vento na cara” em velocidades baixas e permite evitar a turbulência no capacete acima de 100 km/h. Além, claro, de não cansar peito e braços contra o vento.
A suspensão talvez seja um dos principais pontos de venda da moto. No modo de ajuste automático, utiliza a leitura do movimento dos amortecedores, inputs do piloto e o modo de condução selecionado para saber se tem que ficar mais ou menos firme. Em estradas com pavimentação no mínimo duvidosa, peguei-me mais de uma vez olhando para a roda subindo e descendo nos buracos sem perceber nada pelo guidão ou pelo assento. A BMW chegou ao ponto de colocar defletores de calor atrás dos cilindros para evitar que o ar quente do motor chegue nas pernas do piloto.
O outro ponto alto é o conjunto mecânico. Acima das 3.000 rpm, o motor já entrega mais do que nossas ruas e estradas permitem. Mas é acima das 5.000 rpm com acelerador no fim de curso que a R 1250 RT começa a jogar o piloto para trás. É o momento em que a atuação do comando de válvulas variável ShiftCam fica mais perceptível. O câmbio tem engates fáceis e não é difícil encontrar o neutro, ao passo que o acionamento da embreagem é bem leve. Com o eixo cardã, a moto acaba ficando mais silenciosa e evita ajustes constantes de uma corrente, por exemplo.
Após menos de duas horas em cima da moto pelas vias retas da Rodovia Castello Branco, não deu para sentir nenhum princípio de cansaço. O nível de esforço nesse trecho foi o mesmo de ir comprar pão na padaria. E, para a R 1250 RT, exigiu-se menos ainda. Com o banco largo, boa postura, para-brisa ajustável, controle de cruzeiro e um bom som no rádio, é uma moto que convida você a bater um almoço em uma cidade próxima, a uns 700 km de sua casa, mais ou menos. Menos de 300 km? Não sei nem se vale a pena levantar da cama.
Tem pontos baixos, sim, nenhuma moto é perfeita. A calibração do acelerador eletrônico, por exemplo, é um tanto sedada mesmo no modo normal. Só peso da moto já não incentiva muitas peripécias no corredor e a R 1250 RT ainda tem o agravante de ser mais larga na traseira, por conta dos maleiros, do que no guidão. O assistente de partida em rampa atua em descidas e subidas e exige um pouco de costume para operar. Com 1,72 m, fiquei nas pontas dos pés, o que deu pouca confiança em manobras em baixas velocidades e, para puxar a moto para trás, é mais fácil desmontar do que fazer isso em cima dela. Mas tudo isso só reforça a característica devoradora de quilômetros da novidade da BMW.
Quem gasta tanto em uma moto?
Agora, vamos abordar o elefante na sala: quem paga mais de R$ 165 mil em uma moto? É uma escolha emocional e que exige comprometimento. As opções não são muitas. Pode-se optar por estradeira natas como a Honda Gold Wing e até mesmo a linha 1600 da BMW, ou ainda modelos de visual mais clássico, como a linha CVO da Harley-Davidson.
Segundo a própria BMW, a missão da R 1250 RT é um pouco mais abrangente. Com a linha atual, a marca já atende com força os segmentos de aventureiras e esportivas, mas o de estradeiras de verdade é carente. Então a marca aposta em uma parcela relativamente pequena de proprietários de modelos R 1250 GS migrando para a RT, pelo conforto extra. Mas os rivais talvez nem sejam motos.
O perfil de comprador previsto pela marca inclui profissionais bem estabelecidos que não estão comparando a R 1250 RT com uma Honda Gold Wing, por exemplo. São pessoas que encaram o motociclismo como um hobby e não querem abrir mão de todos os mimos possíveis para viajar. Não são compradores que comparam motos, são pessoas que pensam se devem adquirir uma moto aquática, a BMW ou um cavalo.
E também é preciso abordar que a BMW fez um facelift para a R 1250 RT na Europa, com novos faróis de LED, painel de instrumentos totalmente digital e com conectividade melhorada. Então, a moto que começa a chegar agora nas lojas brasileiras já está defasada. Mas será que isso importa mesmo?
Quem vai gastar esse dinheiro e não está pensando em desvalorização, ou se a moto está atualizada. Vai olhar se a marca tem o que ele quer, se a moto atende e se vai entregar tudo aquilo que ele está esperando de um hobby cujo ticket de entrada passa dos R$ 165 mil. E isso a BMW R 1250 RT já faz muito bem, com o benefício de ainda ser uma moto extremamente capaz na estrada.
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Por
Thiago Moreno
Thiago ?jornalista do setor automobilístico desde 2008 e possui pós-graduação em Gestão Automotiva.