Como foi a famosa Bike Fest, de Tiradentes, em 2023; FOTOS
31?edição do festival foi um grandioso sucesso. Em cinco dias de evento, mais de 36 mil pessoas compareceram ao encontro
Comente e compartilhe
Quando morreu, acusado de conspiração, Joaquim José da Silva Xavier, se tornou o imortal Tiradentes. E deu o nome para a pacata cidade mineira de cerca de 11.000 habitantes, mas que durante cinco noites se transforma em um dos maiores encontros de motociclistas do Brasil.
Foi a 31ª edição do Bike Fest Tiradentes, evento que começou como um encontro de amigos em 1992 e neste ano reuniu mais de 36.000 pessoas nos cinco dias de evento, de 21 a 25 de junho. O segredo deste sucesso todo se deve a um misto de localização privilegiada, com uma organização pensada em agradar todas as tribos.
A localização é estratégica, ficando entre três das maiores capitais do Brasil: a 480 km de São Paulo, 330 km do Rio de Janeiro e 200 km de Belo Horizonte. Mas vem gente literalmente do Brasil todo e a cidade recebeu motociclistas de 23 Estados. São 20.000 motos passando pela região!
Minha primeira vez no Bike Fest foi em 2006, justamente o ano da virada, quando deixou de ser uma reunião entre amigos e se tornou um evento com expositores, bandas de música – notadamente rock – e uma feirinha de artesanato. Nesta ocasião gravei uma parte do documentário Alma Selvagem, já esgotado!
VEJA TAMBÉM:
- Dafra NH 300 é uma interessante 3ª via (para XRE e Lander); impressões
- Hunter 350: o que esperar da nova Royal Enfield no Brasil
O que mais chamou atenção foi uma mudança no público e na “cara” do evento. O que antes era praticamente um desfile de Harley-Davidson, com as mais diferentes e inusitadas customizações, hoje os modelos que mais se veem nas ruas pavimentadas com pedras do século 18 são as big trails. BMW GS, Triumph Tiger e Honda Africa Twin são as que mais aparecem na estatística.
Esta alteração de perfil se deve não só à natural mudança de proposta do evento, mas também teve ajuda do tipo do tipo de pavimento das ruas da cidade histórica. Feitas com granito e arenito, colocadas por escravos, a pilotagem se torna difícil e arriscada, por isso as motos passam mais tempo paradas do que circulando! Mesmo assim o desfile de motos agrada tanto quem curte motos, quanto os moradores locais, que agradecem aos visitantes pelos cerca de 58 milhões de Reais deixados no comércio da cidade.
Conhecida pela gastronomia (Tiradentes recebe o Festival de Cultura & Gastronomia no final de agosto), os restaurantes e hotéis comemoraram a “casa cheia”. A ocupação da grande rede hoteleira de Tiradentes e região chegou a 100%.
Um dos destaques do evento é o mini salão de moto organizado em um amplo espaço logo na entrada do centro histórico. Neste ano estiveram presentes BMW, Ducati, Honda, Royal Enfield, Kawasaki, Harley-Davidson, KTM e Triumph. Foram comercializadas 118 motos nos cinco dias de evento.
Neste mesmo salão se apresentaram bandas de música, mas não só rock, como também jazz e blues da melhor qualidade. Mais um sinal que o público mudou mesmo.
Como tradicionalmente o evento coincide com o Festival Interlagos, algumas pessoas apostam na divisão de interesse. Mas neste ano tive a chance de estar nos dois eventos e posso afirmar que são públicos diferentes. O visitante do Festival Interlagos (antes Duas Rodas) é interessado em moto, o veículo, as novidades do setor. O visitante do Bike Fest é interessado naquilo que a moto oferece, como a sensação de pertencimento a uma tribo. A moto está presente em ambos, mas a abordagem é diferente. Aliás, a julgar pela quantidade de pessoas espremidas no salão de exposição, sinto informar aos céticos que os dias de Salão só estão contados em São Paulo, porque nas demais cidades o público comparece sim e agradece.
Siga o MOTOO nas redes: | | | | |
A companheira de viagem
Para a cobertura desse evento, viajei com uma Triumph Tiger 900 GT Pro gentilmente cedida pela Triumph. Trata-se de uma big trail, mas com aro dianteiro de 19 polegadas e pneus de caráter mais esportivo. Eu chamaria de “big touring”, porque foi uma das motos mais confortáveis que já viajei, mas encara um estradão de terra na boa.
Minha última referência de Tiger ainda era a do motor 800, por isso a primeira coisa que me chamou muita atenção foi a eletrônica embarcada. Pode-se fazer absolutamente tudo pelo painel: modo de pilotagem, regulagem de altura, calibragem das suspensões, atuação do freio ABS e mais um monte de coisa. O piloto pode escolher qual melhor tela do painel, além de exibir várias informações que vão desde distância percorrida, média de consumo, velocidade média etc.
Confesso que deixei no modo “estrada” e fui à luta, porque tenho pouca paciência com manuais... Mas adorei saber que tinha aquecedor de manopla e de banco porque a previsão (confirmada) era de frio!
Logo ao me posicionar percebi que as pedaleiras do piloto ficaram bem menos recuadas comparando com as 800cc. Agora as pernas não ficam mais tão dobradas, reduzindo o efeito “garrote” da circulação, o que provocava câimbras.
Viajei acompanhado da amiga e motociclista Lilian Cardoso na garupa. Apesar de ser dona de uma Harley Davidson, não se sentiu à vontade para encarar uma jornada tão longa na estrada. E em função de dois acidentes na rodovia Fernão Dias, a viagem demorou mais de oito horas, para uma distância de 560 km. Mas quer saber? Nem percebemos porque esta Tiger é tão confortável que se tivesse mais 200 km não faria a menor diferença.
Aliás, viajei acompanhado de um grupo formado por amigos e ex-alunos do meu curso Abtrans: Rogério Venturella (Honda CB 500X), Elaine Chibante (Triumph Street Twin 900), Renato Drago (Honda CB 500X), Bruno Mastrorossa (Harley Davidson Road King Special), Elaine Martini (Kawasaki Vulcan 650). Outra integrante, Samantha Costa (dona de uma Harley Fat Boy) teve um imprevisto e viajou de (argh) ônibus para nos encontrar.
Uma dica para quem for a Tiradentes é conhecer o vilarejo vizinho chamado Bichinho, terra de artesãos de primeira qualidade. Só pra ficar no mais tradicional, a Oficina de Agosto, é um grande fornecedor para as lojas de SP, Rio e BH. Só que a estrada de apenas 5 km de Tiradentes a Bichinho é de pedra! Sim aquelas centenárias e desalinhadas.
Neste trecho pude comprovar a eficiência das suspensões. Elas absorvem as irregularidades como se nem percebessem. Mesmo com duas pessoas, a Tiger supera os desafios do off-road com galhardia. O aro dianteiro de 19” e os pneus de uso mais “on” não prejudicam a eficiência no fora-de-estrada. Claro que se a ideia for pegar mais terra do que asfalto, existe a versão Tiger 900 Rally Pro, com aro dianteiro de 21” e rodas raiadas (com pneus sem câmara). Mas sempre defendi a teoria de que no fora de estrada o piloto conta muito mais do que a moto!
Outra boa surpresa foi o baixo consumo. Rodando sem a menor preocupação com o consumo, esta Tiger fez média geral de 18,9 km/litro, o que é ótimo para um motor de três cilindros e 95 CV. Na estrada a retomada de velocidade impressiona e ajudou muito nas ultrapassagens. E outro destaque é o câmbio com quick-shift que dispensa o uso da embreagem nas trocas de marcha, tanto na redução, quanto na passagem das marchas.
Muita gente associa o quick-shift às competições, mas a vantagem deste sistema é manter as mãos totalmente firmes nas manoplas quando o motor passa de 8.000 RPM. Falando nisso é um motor que gira baixo, com a potência máxima a 8.750 RPM e a 120 km/h em sexta marcha o conta-giros indica pouco mais de 4.000 RPM.
Só pra esclarecer sobre o quick-shift. Muita gente acredita que ele serve para reduzir o tempo da troca de marcha, mas isso só vale nas motos de competição. Nas big trail o objetivo é manter a mão inteira na manopla quando o torque entra em ação. Pra acionar a embreagem é preciso aliviar a mão esquerda da manopla e num terreno acidentado pode escapar e perder o controle. Com este sistema basta acionar a alavanca pra cima ou pra baixo que a troca é feita.
As manoplas aquecidas ajudaram muito porque as manhãs e noites eram bem frias, mas não gostei muito do aquecedor de banco. Este acessório é útil em regiões muito mais frias, quando a moto fica exposta ao clima, ou num dia frio com chuva!
Outro item de conforto é a bolha (ou para-brisa) ajustável na altura. Na estrada a posição mais alta desvia o vento para cima do capacete. E na cidade a posição mais baixa ajuda a arrefecer o piloto.
Realmente não sei porque alguma pessoas compram motos acima de 900cc. Este motor da Tiger, com o maravilhoso ronco dos três cilindros em linha, atende todas as necessidades, faz a moto chegar a 200 km/h e ainda se mostra mais econômico do que os gigantescos 1.200cc. Ah e eu rodei também na cidade. Dando calor em muito motoboy! Falando em calor, a grande reclamação é o calor do motor quando em baixa velocidade. Mas isso é suportável.
Em suma, a Triumph Tiger GT Pro é aquele tipo de moto que atende tanto o uso urbano, quanto estradeiro. Fazia mais de cinco anos que eu não pegava estrada de moto e não senti o menor cansaço. Viajei com um grupo de cinco motos num ritmo muito tranquilo e quando voltamos já comecei a planejar a próxima!
MAIS DO MUNDO MOTO
Comente e compartilhe
Por
Tite Simões
Geraldo 'Tite' Simões ?jornalista e instrutor de pilotagem na Speedmaster.